O testemunho cristão
- Christian Lo Iacono
- 23 de jan.
- 10 min de leitura
Atualizado: 29 de jan.
[13] Ora, quem há de maltratá-los, se vocês forem zelosos na prática do bem? [14] Mas, mesmo que venham a sofrer por causa da justiça, vocês são bem-aventurados. Não tenham medo das ameaças, nem fiquem angustiados; [15] pelo contrário, santifiquem a Cristo, como Senhor, no seu coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que pedir razão da esperança que vocês têm. [16] Mas façam isso com mansidão e temor, com boa consciência, de modo que, naquilo em que falam mal de vocês, fiquem envergonhados esses que difamam a boa conduta que vocês têm em Cristo. [17] Porque, se for da vontade de Deus, é melhor que vocês sofram por praticarem o bem do que praticando o mal.
1Pedro 3.13-17
Testemunhar – praticando boas obras e compartilhando as boas-novas
A maioria dos não cristãos não tem a menor vontade de congregar conosco no próximo domingo. Simplesmente oferecer "um bom produto" não é suficiente para atrair pessoas na era pós-cristã. Um lugar legal, uma acústica incrível, pastores modernos e descolados: nada disso importa, na verdade.
Aqueles que de vez em quando aparecem domingo na igreja, em praticamente todos os casos, foram levados por algum membro. A maioria dos "de fora" não acordam domingo de manhã dizendo: "Aposto que aquela igreja tem um bom café; vamos lá conferir!", ou "Aposto que a música lá deve ser muito boa; vamos fazer uma visita!", ou "Ouvi dizer que o pastor de lá é um cara bacana; vou lá ouvir o que ele tem para dizer". Não! Eles dizem: "Vamos aceitar o convite de nosso vizinho/colega/amigo para acompanhá-lo à igreja. Há algo diferente na maneira como eles vivem e em como eles falam sobre sua fé... vamos dar uma chance".
Como membros de igreja, cada um de nós interage com diversas pessoas em nossa rotina: nas lojas, no local de trabalho, na vizinhança, entre nossos familiares e nos lugares que frequentamos por lazer. Evangelismo não se limita aos pastores ou missionários: é responsabilidade de todos os que fazem parte do povo de Deus.
O coração é o coração do evangelismo
Alguns cristãos já fizeram cursos e leram livros sobre evangelismo, decoraram métodos de apresentação etc., mas continuam não se envolvendo com não cristãos. Isso ocorre porque o evangelismo não lida fundamentalmente com métodos, mas diz respeito a corações. O "passo a passo" é importante, mas a falta de vontade é muitas vezes o problema mais óbvio. Essa indolência pode penetrar em nosso coração por muitas vias: fracassos no passado, pela inconveniência de sempre ter de defender o evangelho, ou por corrermos o risco de sofrer zombaria ou sermos rejeitados.
Mas a verdade é que proclamamos aquilo que transborda em nosso coração. Quando uma jovem é pedida em casamento, é incrível como sua vida e suas conversas mudam. Ela mostra seu anel para todo mundo, exibe fotos de seu noivo, atualiza o status no Instagram, começa a planejar o casamento, e sai correndo atrás do vestido de noiva! Por quê? Porque ela tem um novo amor! Ela não consegue ficar dias ou semanas sem falar sobre isso. Ela não precisa ser forçada ou constrangida para falar sobre seu noivo. Ela quer falar. Culpa não é capaz de motivar, mas a beleza, sim; a esperança, sim; o amor, sim; o deslumbramento, sim. Nós falamos daquilo que amamos, valorizamos, reverenciamos e ansiamos.
Esse é o argumento de Pedro em sua passagem-chave sobre o coração do evangelismo: “Ora, quem há de maltratá-los, se vocês forem zelosos na prática do bem? 14 Mas, mesmo que venham a sofrer por causa da justiça, vocês são bem-aventurados. Não tenham medo das ameaças, nem fiquem angustiados; 15 pelo contrário, santifiquem a Cristo, como Senhor, no seu coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que pedir razão da esperança que vocês têm. 16 Mas façam isso com mansidão e temor, com boa consciência, de modo que, naquilo em que falam mal de vocês, fiquem envergonhados esses que difamam a boa conduta que vocês têm em Cristo. 17 Porque, se for da vontade de Deus, é melhor que vocês sofram por praticarem o bem do que praticando o mal” (1Pe 3.13-17).
Repare que o foco recai sobre a vida interior do cristão. Quando Cristo se tornar santificado para seu coração, seus interesses e os assuntos de suas conversas mudarão. Quando você valorizar Jesus como seu tesouro mais precioso, você compartilhará de boa vontade sua esperança.
O contexto da audiência de Pedro era caracterizado pela hostilidade ao evangelho. Ele escreveu a cristãos marginalizados da região da atual Turquia, pessoas que enfrentavam calúnia, eram ridicularizadas, excluídas, e um dia sofreriam também perseguição física.
Eu não ousaria rotularia minha cidade como hostil ao evangelho, mas poderia muito bem descrevê-la como endurecida para o evangelho e satisfeita sem o evangelho. Em nosso contexto local, há muitos que nunca entraram em uma igreja, que cresceram longe da igreja e não tem interesse nenhum nela, e muitos "ex-igrejeiros", que frequentavam a igreja eventualmente, mas abandonaram o hábito. Os desafios ao testemunhar a Cristo na cultura contemporânea surgem de fatos como esses.
De que maneira, então, podemos alcançar essas pessoas? Como cultivar um amor por compartilhar a esperança que temos em Cristo? Apesar de o contexto de Pedro ser diferente do nosso, em suas palavras encontramos três prioridades atemporais do testemunho fiel onde quer que seja: bondade prática; reverência centrada em Cristo; e predisposição constante. Se cultivarmos essas atitudes e vontades, poderemos ver pessoas em nossa volta sendo alcançadas.
Bondade provoca perguntas
Em sua primeira epístola, Pedro constantemente enfatiza a importância de "fazer o bem" (1Pe 3.13, 16-18; 1Pe 2.12,20, 3.1). Nosso testemunho envolve mais do que boas obras, mas definitivamente inclui boas obras (Mt 5.16: “Assim brilhe também a luz de vocês diante dos outros, para que vejam as boas obras que vocês fazem e glorifiquem o Pai de vocês, que está nos céus”). O grande mandamento (ame a Deus e o próximo) e a Grande Comissão (façam discípulos de todas as nações) não se rivalizam. Eles representam o que podemos chamar de "modelo integrativo" de missão: proclamar as boas-novas e praticar boas obras.
Em nossa época, todo mundo quer estar do lado certo de qualquer assunto. São tempos voláteis, e as mídias sociais dificultaram a situação ao permitir, e encorajar, que todos opinassem sobre tudo, especialmente sobre assuntos políticos e culturais. Todavia, o que Pedro incentiva não é a agitação política nem o debate, mas um estilo de vida belo que demonstre o fruto do evangelho. Não estou sugerindo que não podemos ter opiniões políticas ou discutir assuntos importantes. Entretanto, em nosso contexto cultural, temos de lembrar que a ênfase de Pedro recai sobre viver uma vida de boas obras, e não sobre ser antenado em tudo. Esse estilo de vida tem o poder de ser bastante convincente.
Para ser uma testemunha fiel àqueles à sua volta é necessário buscar constantemente viver uma vida virtuosa. Isso não é fácil, e pode resultar em oposição por parte de descrentes (1Pe 3.13-14). Mas Deus está conosco, e ele se agrada dessa conduta, e com isso muitos podem ser induzidos a nos perguntar a razão de nossa esperança.
Muitos cristãos já aprenderam como responder a algumas perguntas básicas que podem ser feitas acerca de nossa fé, e isso é ótimo; mas eles não sabem como despertar esse tipo de conversa! Eis a fórmula de Pedro: abençoe e faça o bem aos outros. Viva uma vida cativante sob o senhorio de Cristo que provoque perguntas.
O fruto do Espírito demonstrado em nossas ações práticas é capaz de causar grande impacto num mundo antenado em tudo. É interessante como uma pessoa alegre, gentil, amorosa e pacífica se destaca hoje. Que demonstrar a bondade de Jesus em atos práticos de serviço ao próximo seja o objetivo de nossas vidas.
Redirecione seus temores
O medo impedirá você de ser uma testemunha fiel: de servir outra pessoa, de dar um livro, de chamar alguém para comer, ou seja, de viver o evangelho com intensidade. É por isso que Pedro exorta os cristãos: "Não tenham medo" (v. 14).
Temer os outros nos escraviza, nos amarra, e constrange nossos pensamentos e ações. O autor de Provérbios diz: "Quem teme ao homem arma ciladas, mas o que confia no SENHOR está seguro" (Pv 29.25). Como você pode evitar esse medo?
Pedro diz que o modo de superar isso é reverenciar Cristo mais do que os outros: "Não tenham medo das ameaças, nem fiquem angustiados; 15 pelo contrário, santifiquem a Cristo, como Senhor, no seu coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que pedir razão da esperança que vocês têm" (1Pe 3.14-15). Santifique Cristo como Senhor em seu coração. Reverencie a Cristo.
Redirecione os seus temores: lembre-se da santidade e da glória de Jesus e você verá os outros sob a perspectiva correta. É o deslumbramento por Jesus que faz de nós suas testemunhas. Viver o evangelho intencionalmente significa não viver com espírito de medo, mas confiando humildemente na presença do Senhor e reverenciando humildemente a santidade de Deus. É com essa disposição de coração que apresentaremos o evangelho a nossos amigos e familiares descrentes.
Preparado para tudo e para todos
Duas palavras importantes dessa passagem não podem passar batidas: "sempre" e "todo". Pedro quer que estejamos "sempre preparados para responder a todo aquele que pedir razão da esperança que vocês têm" (v. 15). O apóstolo está dizendo o seguinte: "Estejam sempre preparados para responder a todo tipo de pergunta que as pessoas à sua volta possam fazer".
Estar pronto significa que temos de deixar de lado as desculpas para nossa falta de interação com não cristãos. Aceite o fato de que nenhum dia é, de fato, um dia perfeito para evangelizar. Sempre é possível arranjar uma desculpa: "Não dormi bem", "Discuti com minha esposa", "Essa poeira está me matando". O evangelismo diário, porém, é que deve apitar o início da partida. Tenha um coração que sempre lhe diga para estar preparado: esteja alerta e pronto para compartilhar a razão da sua esperança.
Eis aqui a nossa palavra-chave: esperança. No original grego, a palavra traduzida por "responder" é apologia, que dá origem ao conceito de "apologética". Em certo sentido, essa empreitada demanda algum grau de estudo, porque, para darmos a "razão" de algo, raciocínio lógico é necessário. Mas Pedro não tem em mente o tipo de apologética formal ou acadêmica. Ele não está pensando em respostas sofisticadas em defesa da existência de Deus, acerca do problema do mal, e coisas do tipo, como num ambiente de debate público. O apóstolo tem em mente, na verdade, conversas ordinárias sobre nossa esperança.
Todo cristão pode tomar parte no evangelismo porque todo cristão possui uma “viva esperança” (1Pe 1.3). Pedro não nos pede para "defender a fé" (ainda que tenhamos de fazer isso), mas para defender nossa "esperança". Esperança, no Novo Testamento, não é um "pensamento positivo" ("Espero que meu time seja campeão esse ano"). A esperança cristã é um "joinha" e não um "cruze os dedos": é uma confiança firme na glória futura. Essa esperança nos fortalece no aqui e agora, especialmente em meio ao sofrimento, e reluz em meio a um mundo desesperado. Esse tipo de esperança é tão raro de encontrar que algumas pessoas perguntarão a você sobre ela, principalmente quando estiverem passando por algum sofrimento ou quando o virem esperançoso em meio à aflição.
Isso é libertador em muitos aspectos, porque alguns de nós ouvem a palavra "apologética" e tremem de medo, pensando: "Eu preciso estar preparado para responder todas as perguntas sobre os assuntos mais profundos". Certamente, não é má ideia ler alguns livros de apologética, mas o foco de Pedro está mais voltado para o coração. Você pode chamar isso de "apologética da esperança": diz mais respeito à adoração do que à argumentação.
Para ser uma testemunha efetiva, é preciso mais do que um argumento destruidor na teoria — seu coração precisa irradiar alegria. É preciso mais do que respostas lógicas: um coração cativado por Jesus é mais do que necessário. Para ser uma boa testemunha é preciso antes adorar a Jesus e ser cheio de esperança. Todo cristão pode ser assim. Um novo convertido, sem instrução formal, por exemplo, pode irradiar uma contagiosa esperança cristã! Evangelismo não é tarefa de uma tropa de elite de cristãos, mas de todos aqueles cujo coração transborda de esperança evangélica. Devemos ter muito cuidado com as críticas feitas a Igrejas cuja teologia não sejam tão robusta, mas que tem sido suficientemente saudável para mobilizar os crentes a darem seu testemunho.
Não cristãos podem não compreender sua teologia, mas são capazes de perceber sua esperança (assim como seu amor, sua alegria e sua paz). Nossa esperança chama a atenção das pessoas. Por isso, seja alguém que, em sua conduta e em suas reações aos sucessos e fracassos, irradia essa esperança, e que também a expressa com palavras. Portanto, vamos transmitir nossa esperança enquanto refletimos regularmente sobre o que Cristo fez por nós e sobre o que ele nos tem guardado.
Ao ler os evangelhos, é difícil não se espantar com o fato de Jesus, em suas interações com outras pessoas, nunca se valer de um método padronizado de apresentação. Ele conhecia cada pessoa e as abordava individualmente. Quando os outros percebem nossa esperança e sentem que não a possuem, suas perguntas se tornam mais pessoais. Quase sempre nosso evangelismo se parecerá mais com aconselhamento pessoal do que com uma proclamação pública. Quando descrentes fizerem perguntas, recorra à clareza e à graça do evangelho para respondê-los.
Assim como o conteúdo do que dizemos é importante, a maneira como dizemos é também crucial. Quando falamos de Cristo aos outros, temos de fazer isso como Cristo faria. Não podemos falar de maneira superior ou rude, mas com "mansidão e temor" (1Pe 3.16). Paulo diz a mesma coisa em outra importante passagem acerca do testemunho diário: “Sejam sábios no modo de agir com os que são de fora e aproveitem bem o tempo. 6 Que a palavra dita por vocês seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibam como devem responder a cada um” (Cl 4.5-6).
Temos de prestar atenção em como vivemos e falamos perto dos "de fora", e administrar o tempo com sabedoria. Deus nos dá oportunidades de ouro para testemunharmos. Aproveite-as! Quando essas oportunidades surgirem, converse de maneira graciosa e cativante.
A expressão "temperada com sal" é importante. David Garland, estudioso do NT, diz o seguinte: “A expressão ‘temperada com sal’ refere-se à fala descontraída, engraçada, inteligente e bem-humorada. Essa temperança lhes impedirá de serem ignorados como chatos e irrelevantes [...]. Piedade não pode ser confundida com chatice. Fórmulas padronizadas e chavões apáticos não fazem jus à alegria do evangelho. A apresentação da mensagem do evangelho deve ser temperada com uma saborosa combinação de inteligência e bom humor para se tornar palatável.”
Se esforce para que seu testemunho seja interessante, vívido e cheio de cores. Evite o diálogo chato, tedioso e monótono. Use sua personalidade a seu favor. Sim, alguns aspectos dela precisam ser santificados, mas, de maneira geral, nós devemos compartilhar as boas-novas fazendo uso da nossa personalidade. Se você é calmo, faça uso de seu tom gentil. Se você é descontraído, faça uso de seu bom humor. Se você é daqueles extrovertidos bem espaçosos, deixe sua empolgação transbordar. Se você é hospitaleiro, deixe sua gentileza derreter o coração de seus convidados. Todo mundo é interessante porque cada indivíduo é único! Não seja um robô quando o assunto é evangelismo. Não pregue sobre você mesmo, mas seja você mesmo.
Que o Senhor use nossas vidas para provocar questões enquanto fazemos o bem, e nos dê coragem para fazermos boas perguntas enquanto compartilhamos a esperança do evangelho de modo gentil e cativante. E, como cada pessoa é única e uma portadora da imagem de Deus, digna de nossa atenção e carinho, esteja preparado para responder a cada uma delas palavras "temperadas com sal".
Assista o Sermão completo em nosso blog:
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