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O Congregar- Parte V| Série - A igreja

1 Cessado o tumulto, Paulo mandou chamar os discípulos e, tendo-os encorajado, despediu-se e foi para a Macedônia.2 Havendo atravessado aquelas terras, fortalecendo os discípulos com muitas exortações, dirigiu-se para a Grécia,3 onde se demorou três meses. Quando estava para embarcar rumo à Síria, houve uma conspiração por parte dos judeus contra ele. Então decidiu voltar pela Macedônia.4 Acompanharam-no Sópatro, de Bereia, filho de Pirro; Aristarco e Secundo, de Tessalônica; Gaio, de Derbe; Timóteo; e também Tíquico e Trófimo, da província da Ásia.5 Estes nos precederam, ficando à nossa espera em Trôade.6 Depois dos dias dos pães sem fermento, navegamos de Filipos e, em cinco dias, nos encontramos com eles em Trôade, onde passamos uma semana.

Paulo em Trôade

7 No primeiro dia da semana, nós nos reunimos a fim de partir o pão. Paulo, que pretendia viajar no dia seguinte, falava aos irmãos e prolongou a mensagem até a meia-noite.8 Havia muitas lâmpadas no cenáculo onde estávamos reunidos.9 Um jovem, chamado Êutico, que estava sentado numa janela, adormecendo profundamente durante a prolongada mensagem de Paulo, vencido pelo sono, caiu do terceiro andar abaixo. Quando o levantaram, estava morto.10 Mas Paulo desceu, inclinou-se sobre ele e, abraçando-o, disse:

— Não fiquem alvoroçados, pois ele está vivo.

11 Subindo de novo, Paulo partiu o pão e comeu. E lhes falou ainda muito tempo até o amanhecer. E, assim, partiu.12 Então conduziram vivo o rapaz e sentiram-se grandemente confortados


Atos 20.1-12


Valorizando o ajuntamento solene


A igreja é mais do que um lugar que visitamos de vez em quando ou um evento que frequentamos. Entretanto, isso não significa que se reunir para cultuar e adorar não seja importante. Congregar é coisa séria, pois, ao se reunir:


“... vocês chegaram ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e a milhares de anjos. Vocês chegaram à assembleia festiva, 23 a igreja dos primogênitos arrolados nos céus. Vocês chegaram a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados, 24 e a Jesus, o Mediador da nova aliança, e ao sangue da aspersão, que fala melhor do que o sangue de Abel... 28 Por isso, recebendo nós um Reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e temor. 29 Porque o nosso Deus é fogo consumidor” (Hb 12.22-24, 28-29).


Congregar não é apenas um aspecto essencial do discipulado, conforme Hb 10.25: “Não deixemos de nos congregar, como é costume de alguns. Pelo contrário, façamos admoestações, ainda mais agora que vocês veem que o Dia se aproxima”). Congregar também é uma antecipação do futuro ajuntamento de todo o povo remido por Deus em adoração ao Cordeiro (Ap 15). O que fazemos em nossas reuniões públicas é importante não apenas para nosso crescimento em piedade, mas é também uma boa forma de apresentar o evangelho aos descrentes.


A história que lemos chega a ser cômica, pois não é difícil nos identificarmos com aquela cochilada. Quem nunca cochilou durante uma aula, filme, ou — sejamos sinceros — um sermão? Quem de nós já não cochilou durante uma oração? Como pregadores, somos encorajados pelo fato de um dos maiores pregadores da história já ter feito um ouvinte dormir! Mas o relato de Trôade traz mais do que um alívio cômico: ele revela alguns princípios e prioridades muito importantes e eternos para o ajuntamento solene, ou adoração comunitária.


O primeiro dia da semana


Lucas nos relata que a igreja se reuniu “no primeiro dia da semana" para a adoração comunitária (20.7a). O estudioso F. F. Bruce comenta: "A referência ao partir o pão no “primeiro dia da semana” é o texto mais antigo à disposição, e podemos com certeza razoável inferir a partir dele que os cristãos se reuniam para cultuar e adorar naquele dia" (O livro de Atos).


Esse dia foi separado como o Dia do Senhor em virtude da ressurreição (veja Ap 1.10; 1Co 16.1-2). Todo domingo, em certo sentido, é Domingo de Páscoa para os cristãos. Nos reunimos para lembrarmos uns aos outros da gloriosa realidade do túmulo vazio e do trono ocupado. Rememoramos nossa viva esperança em nosso Salvador que vive. Quando presenciamos um batismo, lembramos da nossa gloriosa união com o Cristo ressurreto.


A maneira como Lucas descreve esses eventos em Trôade dá a impressão de que congregar no primeiro dia da semana era basicamente a norma nas igrejas daquela época. Essa congregação particular em Trôade se reunia à noite, provavelmente em razão das jornadas de trabalho e dos costumes locais. Mais tarde na história, as manhãs de domingo tornaram-se populares em partes do mundo onde a cultura e os governantes foram cristianizados. Independentemente de qual período do dia o ajuntamento aconteça, não podemos deixar a ideia principal escapar: congregar juntos semanalmente para celebrar a glória do rei ressurreto. Há algo muito especial e significativo em congregarmos, que é celebrar as boas-novas de que Cristo morreu, ressuscitou e há de voltar.


Mais do que isso, quando nos reunimos para cultuar, nunca sabemos o que irá acontecer. Alguém pode cair da janela e ser trazido de volta à vida! Imagine quão decepcionado você ficaria se fosse um cristão de Trôade e tivesse perdido justo aquele culto: Paulo presente e um dos jovens da igreja trazido de volta à vida!


Mas não é necessário ter experiências extraordinárias todos os domingos para fazer o congregar regularmente parte de sua vida. Hábitos nos moldam. Em contraste com a opinião popular, hábitos não são sempre negativos. Muitos hábitos são bons (por exemplo, escovar os dentes!), e congregar semanalmente é um deles. O autor da carta aos Hebreus nos instruiu a não deixarmos de congregar, "como é costume de alguns" (Hb 10.25). Pelo contrário, devemos congregar regularmente, procurando "encorajar-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês veem que se aproxima o Dia" (Hb 10.25, NVI).


Repare que há aqui um papel a ser desempenhado: encorajar-nos uns aos outros. Em vez de sentar e ficar quieto, levante-se e abençoe seus irmãos e irmãs com palavras significativas de encorajamento. Vá preparado para estudar as Escrituras, buscar a presença de Deus, confessar pecados e se arrepender, renovar seu compromisso de seguir a Jesus, e preparado para acolher os visitantes.


Na verdade, não congregar semanalmente é arriscado. A reunião comunitária é um dos meios que Deus utiliza para sustentar e abençoar seu povo pela obediência a longo prazo. De vez em quando, vejo um cristão que congrega semanalmente e que não está perseverando na fé, mas ainda não conheci um cristão que não congregue e que ainda assim prospere na fé. Portanto, vamos considerar alguns dos aspectos mais importantes do culto público que nutrem nossas almas e fortalecem nossa fé.


Ouvir a Palavra de Deus


Lucas conta que Paulo prolongou seu discurso até à meia-noite (At 20.7). No versículo 11, ele acrescenta que Paulo "lhes falou" até o romper do dia. Provavelmente, a primeira parte do sermão se parecia mais com um diálogo, talvez incluindo até mesmo um momento de perguntas e respostas, enquanto a última era mais como um monólogo, ainda que mais livre e aberta do que um sermão formal (John Stott, Atos). Este foi um evento singular, mas ainda persiste o fato de os santos quererem ouvir o ensino apostólico (veja At 2.42), e de que Paulo levava a sério essa responsabilidade.


Ainda hoje nos reunimos semanalmente para ouvir a pregação da Palavra de Deus (2Tm 4.2; 1Pe 4.11). Paulo instruiu Timóteo a respeito do culto público: "Até a minha chegada, dedique-se à leitura pública da Escritura, à exortação e ao ensino" (1Tm 4.13, NVI). Repare na ênfase dada à fonte de autoridade do pregador ("Escritura"), no padrão bíblico de expor a Palavra ("exortação"/"ensino") e na importância da pregação da Palavra no ajuntamento solene ou adoração comunitária ("pública").


Por que ouvir o sermão? Pois se o pregador está de fato expondo o que Deus anuncia em sua Palavra e declarando o que Deus realizou através de seu Filho, então ele está pregando de forma autoritativa e levando uma mensagem transformadora de boas-novas. A autoridade do pregador não é fruto de sua idade ou experiência, mas do fato de que ele está ensinando a partir da Bíblia! E o poder transformador da mensagem não emana da habilidade ou do carisma do pregador em última instância, mas do Espírito Santo aplicando a Palavra de Deus nos corações: vidas são transformadas através da "palavra de Deus, a qual vive e é permanente" (1Pe 1.23).


Não sei se já viram o retrato que Lucas Cranach pintou de Lutero pregando. A pintura mostra Lutero com um dedo nas páginas de sua Bíblia e outro apontando para Cristo, com o público repousando os olhos em Jesus em vez de sobre o pregador. É uma boa ilustração do que deve ocorrer quando congregamos. O objetivo do pregador não é dar sua opinião ou apresentar suas próprias ideias, mas explicar cuidadosamente o significado do texto (ou textos) bíblico e exaltar Cristo em sua mensagem. O sermão deve dizer: "Todos olhem para Jesus".


Em Neemias 8, lemos acerca do povo de Deus experimentando, enquanto ouvia Esdras ensinar as Escrituras, o que podemos chamar de avivamento. O autor destaca que “todo o povo" estava "com os ouvidos atentos" (Ne 8.3). Eles não estavam distraídos, mas ansiosos por aprender. E, enquanto aprendiam, a Palavra de Deus os impactava. Para que a Escritura transforme sua vida, é preciso ouvi-la e compreendê-la. Jesus nos disse que a maneira como ouvimos é um aspecto importante de nossas vidas (veja Mc 4.1-20, a parábola do semeador).


Aqui estão algumas orientações para ouvir adequadamente o ensino da Palavra de Deus:


Ouça humildemente. Receba o ensino "com mansidão" (Tg 1.21). Eis aqui a primeira chave para se aprender as Escrituras: humildade. Não encaramos as Escrituras e as criticamos, mas sentamos aos seus pés e deixamos que elas nos confortem, instruam e transformem;


Ouça atentamente. Lute para permanecer atento. Considere dizer "Amém! Amém!" (Ne 8.6) quando ouvir algo bom. Considere também fazer anotações. Lute contra a tentação de se distrair. Lembre-se de que algo sobrenatural e eterno está acontecendo;


Ouça biblicamente. Use a cabeça e a Bíblia, como fizeram os crentes bereanos (At 17.10-15);


Ouça pessoalmente. Ouça para si mesmo, não apenas para os outros. Não vá com a intenção de criticar o sermão do pastor ou de através dele pensar criticamente sobre os outros, mas esteja preparado para ser confrontado pela Palavra de Deus;


Ouça comunitariamente. Ouça pelo bem de seus irmãos e irmãs;


Ouça obedientemente. Não seja mero receptor da Palavra, mas esteja preparado para ser um praticante dela. Ouça a fim de fazer discípulos de todas as nações;


Ouça experimentalmente. Pense em como aplicar a mensagem à sua própria vida de maneira específica;


Ouça agradecidamente. Seja grato por Deus falar ao seu povo, o que inclui você!


É também importante ter uma boa noite de sono na noite anterior ao ajuntamento solene ou à adoração comunitária – Êutico deve ter aprendido essa lição. Prepare-se para o culto público como você se prepara para outros eventos importantes. Não deixe que a natureza rotineira desse ajuntamento o faça se esquecer do quão importante ele é para você e para todos em sua igreja.


Para muitos de nós, a lista acima não contém nenhuma novidade. Sabemos dessas coisas. A questão, no entanto, é esta: nós as praticamos?


Assista o Sermão completo no Youtube:





 
 
 

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