Lei e Evangelhos nas Escrituras - Parte IV | Série Lei e Evangelho
- Christian Lo Iacono

- 22 de ago. de 2024
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Ó gálatas insensatos! Quem foi que os enfeitiçou? Não foi diante dos olhos de vocês que Jesus Cristo foi exposto como crucificado?2 Quero apenas saber isto: vocês receberam o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé?3 Será que vocês são tão insensatos que, tendo começado no Espírito, agora querem se aperfeiçoar na carne?4 Será que vocês sofreram tantas coisas em vão? Se é que, na verdade, foram em vão.5 Aquele que lhes concede o Espírito e que opera milagres entre vocês, será que ele o faz pelas obras da lei ou pela pregação da fé?
O exemplo de Abraão
6 É o caso de Abraão, que "creu em Deus, e isso lhe foi atribuído para justiça".7 Saibam, portanto, que os que têm fé é que são filhos de Abraão.8 Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria os gentios pela fé, preanunciou o evangelho a Abraão, dizendo: "Em você serão abençoados todos os povos."9 De modo que os que têm fé são abençoados com o crente Abraão.
10 Pois todos os que são das obras da lei estão debaixo de maldição, porque está escrito: "Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro da Lei, para praticá-las."11 E é evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque "o justo viverá pela fé".12 Ora, a lei não procede de fé, mas "aquele que observar os seus preceitos por eles viverá".
13 Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar — porque está escrito: "Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro" —,14 para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Cristo Jesus, a fim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido.
Gálatas 3.1-14
Nos sermões passados vimos como lei e evangelho se diferenciam de seis maneiras. Primeiro, a lei difere do evangelho pela forma em que é revelada. Em segundo lugar, vimos que a lei é distinta do evangelho no que diz respeito ao conteúdo. Em terceiro, lei e evangelho diferem nas promessas feitas: a lei oferece coisas muito boas para aqueles que cumprem suas exigências. Existe, porém, uma única condição: devemos obedecer aos seus mandamentos. O evangelho, por outro lado, faz uma promessa sem exigência ou condição.
Em quarto lugar, lei e evangelho são distintos quanto às ameaças. A lei ameaça pecadores com castigo, proferindo maldição sobre todos os que não conseguem viver de acordo com suas exigências (Gl 3.10). O evangelho, porém, anuncia perdão para os que estão esmagados pela ameaça da lei. Quinto lugar, os efeitos de lei e evangelho são diferentes. A lei: (1) exige, mas não capacita para o seu cumprimento; (2) lança pessoas ao desespero ao diagnosticar a doença, mas não providencia a cura; (3) produz contrição, isto é, aterroriza a consciência, mas não oferece conforto. O conhecimento da lei não implica a capacidade de cumpri-la.
A lei traz morte, e não vida, porque é uma letra que mata (2Co 3.2-12). Sem o evangelho, a lei só pode ser motivo de sofrimento, como o foi no caso do jovem rico que pensava ser capaz de cumprir a lei:
Mateus 19.22:
“Mas o jovem, ouvindo esta palavra, retirou-se triste, porque era dono de muitas propriedades.”
Em cada ponto, o evangelho é diferente da lei. Enquanto é somente pela fé que recebemos os benefícios do evangelho, é o próprio evangelho que cria a fé:
Romanos 1.16-17:
“Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego. 17 Porque a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: ‘O justo viverá por fé.’”;
Efésios 2.8-10:
“Porque pela graça vocês são salvos, mediante a fé; e isto não vem de vocês, é dom de Deus; 9 não de obras, para que ninguém se glorie. 10 Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.”
Ao invés de provocar terror de consciência, angústia no coração e medo de condenação como a lei faz, o evangelho acalma cada uma das vozes de acusação com as fortes palavras da própria paz e alegria de Cristo garantidas pelo sangue da cruz. O evangelho não coloca requisitos de algo que necessitamos fazer.
"O Evangelho não requer que as pessoas forneçam qualquer coisa boa – nem um bom coração ou boa disposição ou progresso na sua condição, nem piedade nem amor – seja para Deus ou para os homens. O Evangelho não emite ordens; ao contrário, modifica as pessoas. Planta amor em seus corações e as torna capazes de fazer toda boa obra. Não exige nada, mas dá tudo. Isso não deveria nos fazer saltar de alegria?” (Walther).
Por fim, em sexto lugar, lei e evangelho devem ser distinguidos em relação às pessoas a quem se dirigem. "Pregue a Lei a pecadores 'seguros'; mas pregue o Evangelho a pecadores alarmados" (Walther). O pecador seguro é aquele que se vangloria de sua própria autojustificação. Nas palavras do teólogo luterano Gerhard Forde, o pecador seguro é "viciado ou no que é inferior, ou no que é superior, ou em ausência de lei ou plenitude de lei. Teologicamente não há diferença, já que ambos rompem o relacionamento com Deus, o doador."
Se estão viciados no que é inferior, os pecadores seguros justificarão ou racionalizarão seu comportamento; eles viverão "como se Deus não importasse e como se eu fosse mais importante"'. Afirmarão que seu corpo e sua vida e os do próximo são deles para fazer o que desejarem.
Por outro lado, os pecadores seguros podem ser viciados naquilo que é superior. Como o fariseu na parábola de Jesus (Lucas 18.9-14, o fariseu e o publicano), os pecadores seguros confiarão em sua própria justiça, na sua autoconstruída espiritualidade. Os pecadores que se sentem confortáveis em sua própria justiça ensaiam os Dez Mandamentos e concluem que eles, assim como o jovem rico na narrativa dos Evangelhos, cumpriram todas as regras e são merecedores da aprovação de Deus. Para os que estão enredados em qualquer dessas inseguranças, cegos à exigência de Deus por justiça total, a lei deve ser proclamada como uma bomba para que toda presunção possa ser destruída.
Porém, para os que foram esmagados pelos golpes do martelo da lei, não mais se sentindo seguros em sua ilegalidade ou autojustiça, só existe uma palavra que vai funcionar: a Palavra do evangelho. O evangelho não é uma receita para o autoaperfeiçoamento; ele é aquela palavra que declara que pecados sejam perdoados por causa do sofrimento e da morte de Jesus Cristo. Tudo é sobre Cristo e o que ele fez por nós.
“A Lei faz exigências de coisas que devemos fazer; insiste em obras que devemos realizar a serviço de Deus e de nossos semelhantes. No Evangelho, entretanto, somos convocados a uma distribuição de ricos presentes que devemos receber e aceitar para nós: o amor e a misericórdia de Deus e a eterna salvação. Eis uma forma fácil de ilustrar a diferença entre ambos: ao nos oferecer ajuda e salvação como um presente e dádiva de Deus, o Evangelho nos ordena a deixar a sacola aberta para que algo nos seja dado a nós” (Walther).
Quando lei e evangelho são confundidos ou misturados, a Escritura Sagrada é mal lida e utilizada. Se a lei não for corretamente distinguida do evangelho, a Bíblia parecerá um livro crivado de contradições: em uma parte, condena, em outra, perdoa. Um texto fala da ira de Deus que visita os pecadores, enquanto outro declara seu amor imortal pelos seus inimigos. Por todo o Antigo e o Novo Testamento, a Escritura revela tanto a ira de Deus como o seu favor.
As Escrituras nos mostram um Deus que mata e faz viver. Esse Deus faz isso por meio de duas palavras diferentes. Com a palavra da sua lei, os pecadores são condenados à morte. É somente por meio da Palavra do evangelho que cadáveres espirituais são ressurretos para viver em Jesus Cristo. Diferentemente da lei, o evangelho fala da própria justiça de Cristo, que vem não como realização nossa, mas como presente seu dado livremente e recebido por fé. Sem essa distinção, o esplendor das Escrituras fica ofuscado, e permanecemos em dúvida sobre a misericórdia de Deus para os pecadores.
A lei nos fala a respeito de nós mesmos. E o que nos mostra não é bom. Diagnostica a doença de nosso pecado e coloca a morte à nossa frente. Por outro lado, o evangelho nos mostra a pura graça e o favor de Deus em Jesus Cristo, que é o verdadeiro amigo dos pecadores de carne e osso. O evangelho nos mostra um Deus que não é contra nós, mas que é por nós, até ao ponto de morte na cruz.
A distinção entre lei e evangelho nunca pode ser atenuada, porque são diferentes palavras de Deus. Oswald Bayer escreve: “De maneira bastante diferente da Lei, na qual Deus fala contra mim, o Evangelho fala por mim. O Evangelho é, portanto, uma ‘Palavra diferente’, uma segunda Palavra de Deus, que não pode ser roubada em sua força mesclando-a com a Palavra da Lei para fazer dela uma terceira palavra – para descrever algo como autorrevelação de Deus."
Quando são misturadas em nome de uma unidade superior ou mais profunda, a força de suas incomparáveis funções se obscurece, a pregação perde o seu ponto central, e os pecadores são seduzidos a uma falsa segurança ou deixados na incerteza.
A elevada e difícil arte
“Distinguir corretamente Lei e Evangelho é a mais difícil e elevada arte cristã – e em particular para teólogos. É ensinada apenas pelo Espírito Santo em combinação com a experiência (WALTHER. 3ª Tese. Law and Gospel, tradução de Tiews, pág. 49; Lei e Evangelho, pág. 54).
Ensinar a fé cristã é mais do que repetir palavras e frases bíblicas; é uma arte que requer atenção ao conteúdo e aos contornos da mensagem escritural, bem como com a maneira de as palavras de Deus fazerem a sua tarefa de expor o pecado e trazer perdão ao arrependido.
A teologia confessional vem com o reconhecimento de que a doutrina pertence a Deus, mas isso tem sido hoje substituído por uma variedade de teologias "construtivas". Lutero, em suas preleções sobre Gálatas, de 1535, escreve:
“Doutrina é céu, vida é terra. Na vida há pecado, erro, impureza e miséria misturados... Mas assim como não há erro na doutrina, não há necessidade para qualquer perdão dos pecados. Portanto, não há comparação alguma entre doutrina e vida. ‘Um til’ de doutrina é mais valioso do que ‘céu e terra’ (Mt 5.18); portanto, não permitimos a menor ofensa contra ela... pela graça de Deus, nossa doutrina é pura; temos todos os artigos de fé solidamente estabelecidos na Escritura Sagrada. O diabo adoraria corromper e derrubá-los; é por isso que ele nos ataca tão habilmente com este argumento capcioso sobre não ofender contra o amor e a harmonia entre as igrejas.”
A doutrina não é do homem, mas de Deus. Não está aí para ser revisada. Iwand observa: "Lutero vê o ajuste da Palavra ao homem e suas preferências como um sinal geral e imediato de heresia."
Em uma era de relativismo, pluralismo religioso e agora também de um secularismo agressivo, torna-se essencial confessar toda a verdade da Palavra de Deus. Nada do que o Senhor nos dá pode ser deixado de lado. Qualquer erro diminui a verdade do evangelho, fazendo de Cristo um Salvador menor do que ele é. Insistência na pureza doutrinária não é uma questão de rigidez ou inflexibilidade, mas de fidelidade ao nosso Senhor. No entanto, Walther reconhece que um sermão pode não conter falsa doutrina, mas ainda assim falhar em pregar Cristo:
“O valor de um sermão depende não somente do fato de que cada afirmação foi tirada da Palavra de Deus e se está de acordo com ela, mas também se Lei e Evangelho foram corretamente distinguidos. Se o mesmo material de construção for oferecido a dois arquitetos diferentes, um deles poderá construir um prédio magnífico, enquanto o outro, utilizando os mesmos materiais, fará um grande estrago. Por ser um tolo, o segundo talvez queira começar pelo telhado, colocar todas as janelas em um só quarto ou dispor as camadas de pedra e tijolos de tal forma que a parede ficará torta. Uma casa ficará fora de prumo e tão estropiada que cairá, enquanto a outra ficará firme, será habitável e um lugar agradável para se morar. Da mesma forma, dois sermões podem conter todas as diferentes doutrinas – e enquanto um sermão poderá ser um trabalho esplêndido e precioso, o outro poderá estar inteiramente equivocado” (Law and Gospel, tradução de Tiews, pág. 37; Lei e Evangelho, pág. 46).
O conteúdo da pregação poderá estar correto uma vez que usa palavras da Bíblia. O pregador não nega a veracidade das declarações escriturísticas. No entanto, o sermão fracassa como pregação evangélica no seguinte quesito: a lei é apresentada como boa-nova ou o evangelho é apresentado como algo que nós fazemos. Tal pregação, independentemente de quantas passagens bíblicas tenham sido citadas ou mencionadas, não é a pregação do Cristo crucificado como o único Salvador dos pecadores. Walther cita Lutero:
“Portanto, é de extrema necessidade que esses dois tipos da Palavra de Deus sejam bem e adequadamente distinguidos. Onde isso não é feito, nem Lei nem Evangelho podem ser compreendidos, e as consciências dos homens precisam perecer em cegueira e erro. A Lei tem seu objetivo fixado além do qual não pode ir ou conseguir algo, ou seja, até que atinja o ponto onde então Cristo entra. Precisa aterrorizar o impenitente com ameaças da ira e do descontentamento de Deus. Da mesma forma, o Evangelho tem sua função e tarefa particular, a saber, de proclamar o perdão dos pecados para as almas contristadas. Eles não podem ser misturados, nem um ser substituído pelo outro sem que a doutrina não seja falsificada. Porque mesmo que Lei e Evangelho sejam de fato igualmente Palavra de Deus, não são a mesma doutrina (Law and Gospel, tradução de Tiews, pág. 40;
Lei e Evangelho, pág. 48).
Paulo escreveu: "Procure apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade" (2Timóteo 2.15). Nessa epístola de instrução pastoral a Timóteo, o experiente apóstolo chega ao coração da elevada arte do ofício do pregador. As palavras de Deus não são jogadas juntas como vegetais em um ensopado. Para usar a ilustração de Walther da carpintaria, o construtor não junta a tábua à viga de qualquer maneira. Cada elemento de uma construção é encaixado de modo que resulte em uma casa, e não em uma pilha de entulho. Um médico indica o remédio de acordo com a doença do paciente. Um bom remédio administrado de maneira incorreta pode ser fatal. Da mesma forma os pastores, que são construtores da casa de Deus e médicos das almas confiadas ao seu cuidado, devem ser habilidosos em fazer a correta distinção entre lei e evangelho.
Isso não é tarefa fácil. Como qualquer arte, não é aprendida rapidamente ou sem a prática contínua. Lutero a chama de a mais elevada arte: "Distinguir Lei e Evangelho é a mais elevada arte na cristandade, é uma arte que toda pessoa que valoriza o nome cristão deveria reconhecer, conhecer e possuir. Onde tal não existe, não é possível dizer quem é cristão, pagão ou judeu. Tudo isso está em jogo nesta distinção."
Discernir lei de evangelho não é tão fácil como pode parecer à primeira vista. Fazer a distinção requer mais do que um olhar superficial do texto. A verdadeira dificuldade vem quando a lei ataca a consciência delicada e aterrorizada, pressionando até o ponto do desespero mesmo em face das promessas do evangelho. Walther descreve isso como sendo uma batalha:
“Como duas forças hostis, Lei e Evangelho muitas vezes colidem uma com a outra na consciência da pessoa. O Evangelho diz ‘Você foi recebido na graça de Deus’; enquanto a Lei diz: ‘Não acredite. É só ver a sua vida passada. Veja quantos e quão graves são os seus pecados! Examine os pensamentos e desejos lascivos que você tem abrigado em sua mente’. Nestas ocasiões é difícil distinguir Lei e Evangelho. Quando isso acontece com você, é preciso dizer: ‘Fora contigo, Lei! Todas as tuas exigências foram completamente cumpridas, e não tens nada a exigir de mim. Existe Alguém que já pagou minha dívida.’ As pessoas mortas em suas ofensas e seus pecados não sentem essa tensão. Rapidamente descartam a Lei. No entanto, a dificuldade é bem real para as pessoas que foram convertidas (Law and Gospel, tradução de Tiews, pág. 35; Lei e Evangelho, pág. 57).
Lutero faz uma observação semelhante a um jovem envergonhado afligido pelos ataques de Satanás e tentado ao desespero: “Quando o diabo nos ataca e atormenta, devemos deixar completamente de lado todo o Decálogo. Quando o diabo lança nossos pecados em nossa direção e declara que merecemos morte e inferno, devemos dizer o seguinte: ‘Admito que eu mereça morte e inferno. E daí? Isso significa que serei sentenciado à condenação eterna? De jeito nenhum. Porque eu sei de alguém que sofreu e satisfez todos os requisitos por mim. Seu nome é Jesus Cristo, o Filho de Deus. Onde ele estiver, ali estarei também.’”
Quando a consciência estiver sob ataque, precisaremos abandonar a lei completamente. Ao se movimentar para acusar, levando à introspecção e acusação, a lei não oferece alívio. Deus falou para Israel em majestade e reverência esfumaçante do alto do Monte Sinai (Êx 19.16-25) dando-lhe a lei. A lei do Sinai infalivelmente fareja cada cheiro de pecado, revelando nosso fracasso em temer, amar e confiar em Deus acima de todas as coisas. Desmascara todas as piedosas pretensões. O Sinai é mortal; não há vida em seus picos. Não há naquele monte fendas que possam nos esconder do Juiz de tudo. Não há cavernas profundas o suficiente para nos abrigar da ira de Deus. Não há consolo no Monte Sinai.
O Livro de Hebreus nos fala de outro monte: "Pelo contrário, vocês chegaram ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e a milhares de anjos. Vocês chegaram à assembleia festiva, 23 a igreja dos primogênitos arrolados nos céus. Vocês chegaram a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados, 24 e a Jesus, o Mediador da nova aliança, e ao sangue da aspersão, que fala melhor do que o sangue de Abel" (Hebreus 12.22-24).
O conflito entre lei e evangelho coloca a própria fé em julgamento. Será o evangelho realmente a palavra última e final de Deus que supera a acusação da lei? Ou há alguma coisa ainda que preciso fazer para ter paz com Deus? A habilidade para distinguir lei e evangelho é testada quando o coração condena e acusa com a lembrança de pecados cometidos no passado. Para onde olha a alma atormentada? Quando esmagados pela lei, o único lugar onde podemos conseguir alívio é nas feridas de Cristo Jesus e na promessa de que seu sangue limpa de todo pecado.
Esse aspecto é maravilhosamente ilustrado no livro O Martelo de Deus do bispo sueco Bo Giertz. Na sua história, Frans, um homem conhecido por sua piedade, está acamado e morrendo. Como acontece muitas vezes com uma pessoa à beira da morte, a mente de Frans lembra dos dias antes de sua conversão. Flutuando em seu delírio, o moribundo fala palavras de juramento. Perturbada pelos devaneios impiedosos de seu pai, Lena exclama: "Estás pensando em Jesus, não é pai?" Ele responde: "Não consigo, Lena. Não consigo pensar mais. Mas sei que Jesus está pensando em mim." Com essas palavras, um homem, à morte, distingue lei de evangelho e morre morte cristã. O evangelho não é sobre nossa habilidade de pensar em Cristo, mas sobre sua promessa, como amigo dos pecadores, sua promessa de que nada vai nos arrancar de suas mãos: “Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão” (João 10.28). Diante da morte, somente o evangelho serve.
Assista o Sermão completo no Youtube:

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