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A tarefa e o coração do pastor

1Pedro 5:1-4

[1] Aos presbíteros que há entre vocês, eu, presbítero como eles, testemunha dos sofrimentos de Cristo e, ainda, coparticipante da glória que há de ser revelada, peço [2] que pastoreiem o rebanho de Deus que há entre vocês, não por obrigação, mas espontaneamente, como Deus quer; não por ganância, mas de boa vontade; [3] não como dominadores dos que lhes foram confiados, mas sendo exemplos para o rebanho. [4] E, quando o Supremo Pastor se manifestar, vocês receberão a coroa da glória, que nunca perde o seu brilho.

1Pedro 5:1-4


Seguindo pastores humildes


Muitos veem os líderes na igreja de maneira negativa. Costuma haver muito ceticismo e criticismo envolvendo a liderança. Hoje em dia, isso é particularmente verdade em relação à política, mas também alcança os negócios, a educação, as instituições, a família e os esportes. Líderes são cercados por desconfiança. Mas não é por menos, pois muita dor já foi causada por eles. Esse ceticismo se estende aos líderes religiosos também. É possível compreender a frustração causada por líderes egoístas, que falharam em liderar e maltrataram a muitos. Devemos lamentar a dor que alguns líderes de igreja já causaram e estão causando.


Porém, temos de deixar a Bíblia moldar a maneira como encaramos esse assunto — como qualquer outro, na verdade. E eis o que vemos nas Escrituras: maus e bons líderes, e o chamado a honrar estes últimos.


Paulo fala com frequência sobre falsos mestres e líderes corruptos. Por exemplo, ele pede aos romanos "que notem bem aqueles que provocam divisões e escândalos, em desacordo com a doutrina que vocês aprenderam. Afastem-se deles, porque esses tais não servem a Cristo, nosso Senhor, e sim a seu próprio ventre. Com suaves palavras e lisonjas, enganam o coração das pessoas simples" (Rm 16.17-18). O apóstolo também costuma falar de pastores e líderes fiéis (1Tm 3.1-7, 4.11-16, 5.7). Sim, Paulo estava ciente do fato de haver líderes honráveis e líderes indignos: “numa grande casa não há somente utensílios de ouro e de prata; há também de madeira e de barro. Alguns, para honra; outros, porém, para desonra. Assim, pois, se alguém se purificar destes erros, será utensílio para honra, santificado e útil ao seu senhor, estando preparado para toda boa obra” (2Tm 2.20-21).


Pedro estava igualmente ciente disso. Quando escreve sobre presbíteros/pastores/bispos (esses termos parecem ser intercambiáveis no NT; At 20.17,28; Tt 1.5,7), o apóstolo não está sendo ingênuo. Pedro sabe que existem líderes corruptos: "Assim como surgiram falsos profetas no meio do povo, também haverá falsos mestres entre vocês" (2Pe 2.1). Mas se lembre disto: não é porque líderes corruptos existem que não há líderes fiéis na igreja, líderes que sejam dignos de honra. Toda ovelha do rebanho de Deus precisa de um humilde "pastor auxiliar" que esteja sob as ordens do Sumo Pastor (Jesus); tais líderes, portanto, devem ser respeitados:


Irmãos, pedimos que vocês tenham em grande apreço os que trabalham entre vocês, que os presidem no Senhor e os admoestam” (1Ts 5.12);


Lembrem-se dos seus líderes, os quais pregaram a palavra de Deus a vocês; e, considerando atentamente o fim da vida deles, imitem a fé que tiveram” (Hb 13.7).


Quando um líder fiel segue a Jesus e se submete à sua Palavra, então o povo de Deus seguirá esse pastor com alegria.


Pastores alegres, santos e humildes


O que é um "líder fiel"? Pastores são chamados a exercer sua função de boa vontade (1Pe 5.2). Eles são chamados a viver uma vida santa diante de Deus: a maioria das qualificações do pastor estão relacionadas ao caráter, e não às habilidades (veja 1Tm 3.1-7). Pastores são chamados a serem líderes-servos e humildes, como Jesus foi (veja Jo 13.1-35). Eu sei que pastores não são perfeitos, que eles terão dias ruins e cometerão erros, mas o padrão e as motivações da vida de um pastor devem ser caracterizados pela alegria, pela santidade e pela humildade.


A igreja frutifica sob a supervisão de líderes assim, e esses traços de caráter brilham num mundo dominado por lascívia, imoralidade e arrogância. Um líder que personifica esse estilo de vida, e um conhecido exemplo no pastorado, é John Stott. Tim Chester, em seu livro Stott e a vida cristã, conta que certa vez um repórter fez a seguinte pergunta a Stott: "Você teve uma carreira acadêmica brilhante; foi destaque em Cambridge; tornou-se reitor aos 29 anos; foi capelão da rainha. Qual sua ambição agora?". Ele respondeu: "Me parecer mais com Jesus" (p. 255). Isso era mais do que uma resposta de escola dominical para Stott: era seu estilo de vida. Eis um homem que sempre preparava seus sermões ajoelhado e diante da Bíblia.


Esse pregador anglicano era também um servo humilde para aqueles à sua volta. René Padilla conta sobre sua viagem à Argentina acompanhado de Stott. Tarde da noite e sob uma chuva torrencial, eles chegaram ao destino completamente enlameados. Na manhã seguinte, Padilha acordou e se deparou com Stott limpando seus sapatos! Quando ele contestou, Stott disse: "Querido René, Jesus nos disse que devemos lavar os pés uns dos outros. Hoje não lavamos os pés como faziam na época de Jesus, mas eu posso limpar seus sapatos". A secretária de longa data de Stott, Frances Whitehead, disse: "Ainda fico maravilhada quando lembro que John esvaziou minha lixeira todos os dias por muitos e muitos anos" (Tim Chester).


Essas histórias podem até parecer banais, mas ilustram como a vida privada de Stott era condizente com sua vida pública. Esse tipo de comportamento não deveria nos surpreender, mas num mundo de escândalos tais episódios nos são encorajadores. Para aqueles de nós que são líderes, fatos como esses nos desafiam. Ken Perez, que conhecia muito bem John Stott por causa de seu envolvimento com o London Institute of Contemporary Christianity, disse: "Alguns são impressionantes em público, mas decepcionantes em privado. John é o oposto: ele é ainda mais impressionante em privado do que em público. Sua semelhança com Cristo, sua gentileza, sua bondade e sinceridade são inesquecíveis". Oremos para que Deus levante mais líderes assim!


Um breve esclarecimento acerca do pastorado


Alguns veem o pastor como se fosse uma espécie de CEO, outros como se ele fosse um general, e por aí vai. Mas é um erro pegar emprestado o conceito de uma liderança secularizada e aplicá-lo à igreja. Se um membro (ou líder) tem expectativas equivocadas em relação aos pastores, cedo ou tarde teremos muitas frustrações e muita dor de cabeça. Então, o que devemos esperar de um pastor/presbítero/bispo? Em 1Pedro 5, o apóstolo destaca três aspectos: a tarefa, o coração, e a recompensa do pastor.


Pedro descreve a si mesmo como um colega presbítero (1Pe 5.1). A pluralidade de presbíteros é a norma no Novo Testamento (por exemplo, 1Pe 5.5; At 11.30, 15.2;

Tt 1.5), e o termo se refere a uma função ou "ofício" – não se trata de idade (“ancião”), mas do trabalho de supervisão espiritual. Visto que todos os líderes de igreja são pecadores, concentrar poder nas mãos de uma pessoa não é o ideal. Consequentemente, é bom que uma igreja tenha presbíteros, no plural, e que esses presbíteros não sejam apenas de fachada.


Diferentes igrejas adotam modelos distintos.  Independentemente de qual seja o sistema de governo de uma igreja, o objetivo é que os pastores trabalhem juntos em prol do rebanho e para que as ovelhas sejam habilitadas a cuidar umas das outras. É importante ressaltar que Pedro obviamente acreditava na possibilidade de restauração de pastores que caíram (ele foi um!).


A tarefa. Pedro descreve a responsabilidade dos pastores da seguinte forma: "pastoreiem o rebanho de Deus que há entre vocês" (1Pe 5.2). O trabalho do pastor é cuidar das ovelhas através da supervisão e do pastoreio cuidadoso e habilidoso. O pastor de ovelhas é uma figura bíblica muito proeminente e que oferece um belíssimo pano de fundo para que os pastores compreendam sua função. Bons pastores conhecem as ovelhas, lideram as ovelhas e alimentam as ovelhas.


O coração. Pedro dá bastante atenção ao coração do pastor, e destaca algumas das mais fortes tentações dos líderes de igreja: eles devem servir "não por obrigação, mas de livre vontade, como Deus quer. Não façam isso por ganância, mas com o desejo de servir. Não ajam como dominadores dos que foram confiados a vocês, mas como exemplos para o rebanho" (1Pe 5.2-3, NVI).


Portanto, em primeiro lugar, os pastores não devem servir por obrigação, mas de boa vontade. Isso significa que ninguém deve forçar alguém a ser pastor. O pastoreio deve ser "desejado" (1Tm 3.1). Além disso, pastores não podem se aborrecer com os deveres comuns de um pastor: "Puxa, tenho que ir a essa reunião do presbitério"; "Caramba, tenho de preparar outro sermão"; "Que coisa, preciso fazer essa visita".


Segundo, pastores não devem servir por ganância, mas de boa vontade. Pastores fiéis são movidos pelo amor sincero que têm pela obra. Isso não significa que os pastores não devam ser recompensados (1Tm 5.17-18); quer dizer apenas que a motivação não deve ser o ganho financeiro. Além disso, pastores não podem discriminar os membros da congregação com base na situação financeira. O Novo Testamento sempre relaciona falsos mestres e líderes infiéis a um amor idólatra ao dinheiro. Vejamos o texto de 1Tm 6.3-5:


Se alguém ensina outra doutrina e não concorda com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e com o ensino segundo a piedade, 4 esse é orgulhoso e não entende nada, mas tem um desejo doentio por discussões e brigas a respeito de palavras. É daí que nascem a inveja, a provocação, as difamações, as suspeitas malignas 5 e as polêmicas sem fim da parte de pessoas cuja mente é pervertida e que estão privadas da verdade, supondo que a piedade é fonte de lucro. 6 De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento. 7 Porque nada trouxemos para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. 8 Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. 9 Mas os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos insensatos e nocivos, que levam as pessoas a se afundar na ruína e na perdição. 10 Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e atormentaram a si mesmos com muitas dores”.


Por fim, pastores não podem ser dominadores, e sim um exemplo de humildade. A sede de poder e controle torna o ambiente da igreja tóxico. Liderança cristã não é o mesmo que senhorio; ela consiste em entregar a própria vida, seguir humildemente a Jesus, e chamar os outros a segui-lo também (veja Mc 10.42-45; 1Tm 4.12: “seja um exemplo para os fiéis, na palavra, na conduta, no amor, na fé, na pureza”). Liderar pelo exemplo é um aspecto essencial da liderança pastoral (veja Mt 23.11: “Mas o maior entre vocês será o servo de vocês”; Fp 2.3-4, 5-8).


Posturas e ações dominadoras não podem ter lugar na liderança pastoral. Pastores não podem ser orgulhosos, egoístas, manipuladores, briguentos, intimidadores ou tirânicos. Temos de lembrar disso quando lemos Pedro dizer que os membros da igreja devem ser "submissos aos que são mais velhos" (1Pe 5.5). O apóstolo tem em mente pastores humildes, pastores que lideram pelo exemplo.


A recompensa. Pastores têm de manter os olhos fixos em Cristo: "quando o Supremo Pastor se manifestar, vocês receberão a coroa da glória, que nunca perde o seu brilho" (v. 4). Jesus é o verdadeiro "pastor sênior", e ele recompensará o serviço fiel dos presbíteros. Pastores também são ovelhas, e dependem da graça salvadora de Jesus Cristo tanto quanto qualquer outro membro. Eles também estão aguardando a volta de Jesus, como qualquer outro cristão. E, quando Cristo voltar, os pastores fiéis, que praticaram o que está escrito nos versículos 2 e 3, receberão "a coroa da glória, que nunca perde o seu brilho". Diferentemente da coroa de folhas entregue aos atletas gregos antigamente, aqueles que serviram fielmente serão recompensados com uma coroa eterna.


Assim, uma das coisas que você pode fazer para honrar seus pastores é ajudá-los a manter esse pensamento em mente enquanto trabalham. Ajude seus pastores a continuarem enxergando a beleza de nossa gloriosa esperança. Preparar sermões é muito cansativo, solitário, e por vezes não traz recompensas imediatas; o cuidado pastoral nem sempre é notado e drena nossas energias; mas o Pastor Supremo vê esse trabalho fiel e irá recompensá-lo. Quando você encorajar seu pastor com essas verdades, lembre-se de que Jesus vê sua fidelidade também (2Co 5.10; 1Pe 1.9).


Assista o Sermão completo no Youtube


 
 
 

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